Mês do Brincar em Cascais

Sábado eu fui à conferência de abertura do mês do brincar em Cascais.

Primeiro é preciso parabenizar a todos os envolvidos pela iniciativa. Discutir sobre o brincar e práticas que o beneficiem é mesmo essencial. Brincar é para as crianças tão importante quanto comer e levar uma vida saudável emocional e fisicamente falando.

Mas...antes de começar a contar sobre o evento quero só fazer um adendo. Por quê eu fui à abertura aifnal?
Um, eu estava a cursar Pedagogia quando saí do Brasil, portanto eu gosto do assunto. Dois, eu estou em Portugal há um ano (fez no domingo dia 06). Meus filhos frequentam a escola pública (por opção), eu já andei a escrever que gosto muito da escola, mas nunca é demais saber o que a Câmara Municipal pensa sobre educação. E Três, o principal, além das palestras me interessarem é imprescindível que os pais participem desse tipo de iniciativa (falo mais sobre isso depois).

Continuando...

Para além dos recreios: o que os espaços de brincar oferecem às crianças - Suzanna Law

A primeira conferência que ouvi foi da Suzanna Law, a Suzanna é uma Playworker especialista. E bastava olhar para ela para ver que ela entende a concepção da infância. Cada palavra vinha com muito entusiasmo e esperança em fazer de nós mensageiros de um município mais brincante. A Suzanna também é Coordenadora Pedagógica do Projeto Pop-up Play adventure em Manchester.

Mas o que raios é isso?

Pop-up Playgrounds são parquinhos de diversões que os brinquedos são feitos de material reciclável.
Em sua maioria são caixas de papelão, pneus, e outros objetos de plástico. Ela nos dizia que as crianças não precisam de muito para brincar, aliás pelo contrário, as crianças precisam de pouco. Um bocado de material não estruturado, sem direcionamento já é suficiente para muita brincadeira. É preciso deixar o cérebro da criança fluir, deixar que ela tenha espaço para superar os obstáculos.
Em um momento da palestra, ela nos disse que sai sempre com a sobrinha para passear, e que todas as vezes pergunta à sobrinha o que ela quer fazer. Elas dão voltas no parque e olham passarinhos, árvores, folhas, a sobrinha corre, fala sozinha e conclusão: se diverte muito.
Dentre muitas outras coisas importantes que disse essa é uma das que eu mais gosto para refletir, pois é simples e muitas vezes não percebemos isso:

"Quando as crianças brincam de verdade o espaço não pode e nem vai ficar muito limpo."

Isso me lembra das muitas vezes que fui à escolas que as coisas estavam impecáveis, nenhuma mancha na roupa, nenhuma canetinha fora do lugar ou tinta pelo chão do ateliê. E também nenhuma criança feliz de verdade! Outra frase importante e fundamental para nós cuidadores é:

"Nós já vivemos no mundo do NÃO, dêem às crianças algum SIM!
Ela nos dizia que levamos as crianças ao supermercado, cheio de prateleiras coloridas, de produtos chamativos e as crianças NÃO podem lá mexer. Vamos ao shopping que produz o mesmo efeito e... as crianças também NÃO podem lá mexer. A grama é tão convidativa mas... e a água tão interessante, mas... e assim vai.
A seguir sugeriu que demos às crianças 5 min para brincarem do que elas querem, fazerem o que elas bem entendem sem direcionamento. Dizia da importância de ouvir a criança e perguntar: o que você quer fazer hoje? Muito embora a maioria delas possa responder que não sabe, é possível ir fazendo perguntas, mediando a situação para  que elas encontrem suas respostas e se sintam importantes.

E por último e não menos relevante, é preciso deixar que a criança corra riscos para que ela aprenda a se superar. Muito claramente, estamos a falar de riscos calculados, mas ainda riscos.

A seguir coloco um vídeo para que vejam os parques de Pop-up

https://www.youtube.com/watch?v=MkT_UNNIvFc

Pais curiosos: Falamos a brincar? - Beatriz Imperador

A seguir foi a vez de Beatriz Imperador a Diretora Executiva do UNICEF. A conferência da Beatriz foi um pouco mais globalizada. Ela nos contou sobre uma experiência que acompanhou no Senegal.  A experiência foi com  para meninas que deram à luz na infância. A brincadeira e a meditação foram o principal elo para a recuperação dessas meninas e sua volta ao seio familiar.

Também nos contou a história de uma casa para meninos que se perderam das famílias durante as famosas migrações na África. E como o desenho, com um lápis e uma folha qualquer ajudava a dar voz a esses meninos e apoio para enfrentar seus traumas.

Segundo Beatriz:

"A perspectiva do direito da criança é uma perspectiva evolutiva, é um limiar complicado porque os direitos fundamentais nunca estão 100% garantidos"

A questão é que em situações adversas, ou de cultura para cultura a perspectiva dos direitos fundamentais pode mudar, e assim muitas vezes as pessoas se esquecem que toda criança tem direito à infância. O vídeo abaixo assisti na conferência da Beatriz, além de muito bonitinho traz uma importante reflexão sobre os primeiros 1000 dias da criança.


Beatriz também explanou sobre as crianças que ficam guetizadas em seus bairros, em geral são as crianças da periferia que não são bem vindas no centro. É preciso combater isso criando espaços amigos da criança e por um acaso Cascais é uma cidade amiga da criança (embora tenha ainda muito a evoluir).
Por último falou-nos sobre a adaptação dos pais ao mundo digital. Para mim o mais interessante foi dizer que nós, pais, precisamos nos entregar ao universo dos nossos filhos, brincar com eles, usar a internet com eles. Isso é muito mais eficiente do que proibir ou brigar.

Comentários - Professor Carlos Neto

A última conferência que vi foi a do Professor Carlos Neto - Faculdade de Motricidade Humana.
O professor fazia algumas anotações durante a conferência, e eu não imaginei que ele ia compilar tão acertadamente as duas conferências anteriores.

Ele começou dizendo que o brincar não pode ser guiado, não pode ser direcionado. É fundamental dar liberdade de movimento às crianças, segundo ele:

"A criança que não corre riscos não tem segurança. Se confrontar com o inesperado faz com que a criança se supere."
Parece paradoxal, mas não é quanto mais as crianças souberem sobre o mundo em que vivem menor é a possibilidade de se enrascarem com apuros administráveis. E a fase de experimentar e correr riscos é a infância, não se pode formar um cientista adulto se ele não for um cientista desde pequeno. E as crianças já nascem pequenos cientistas, desde as brincadeiras de jogar um objeto ao chão várias vezes para ver o que acontece, isso é um experimento científico. As crianças nasceram para serem autônomas, isso faz parte de ser criança. Como disse o Professor Carlos, é preciso abrir as janelas porque temos que respirar a Merda que está lá fora!
É inerente à infância o ar puro, a natureza, a sujeirada toda. Aqui muitas vezes eu vejo em parques as crianças vestidas como príncipes e princesas a tentar brincar e os pais preocupadíssimos com a roupa. Pelo amor de Deus!!!

Vale destacar ainda, a seguinte fala:
"Os pais estão sem tempo e cansados, isso é reflexo da sociedade atual, por isso há crianças sem comer direito, sem dormir direito e assim como é que podem brincar e aprender? "
Eu digo isso como mãe, é preciso encontrar o tempo para assegurar que espaços para que os nossos filhos brinquem, enxerguem, experimentem. A infância é a base do adulto que serão um dia, e nós somos adultos muito chatos. Não podemos transmitir toda a chatice do nosso mundo aos nossos filhos.

Por fim, foi uma experiência extremamente enriquecedora e é muito bom saber que há espaços assim para refletirmos e que há uma preocupação do Município de Cascais em trazer essas referências até nós.
Pais, nós temos que participar destes eventos. Mesmo que saibamos de tudo isso é fundamental refrescar a memória. Também é preciso estar presente nas comunidades escolares, não como clientes e sim como parceiros.

Parabéns à Câmara Municipal de Cascais pela iniciativa e tomara que muito do que se falou seja colocado em prática!

Fico por aqui.

Beijinhos

Clau





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