A Escola de Carcavelos
Aqui a "diretoria de ensino" da região chama-se agrupamento de escolas. A escola que meus filhos frequentam é o Jardim de Infância de Carcavelos e pertence ao Agrupamento de Escolas de Carcavelos.
Antes de conhecer a escola, quando fiz a matrícula, peguei um uber com um pai que teve seus dois filhos no JI de Carcavelos e ele me disse: Pode não ser a escola mais rica em instalações e material, mas o material humano é 5 estrelas! Eu sinceramente até discordo da parte das instalações. A escola é simples, mas é perfeita para ter liberdade e imaginação. E hoje vejo que ele tinha razão sobre o material humano!!!
Já na primeira reunião, a reunião com o diretor do agrupamento, Adelino Calado, fiquei muito bem impressionada. Como alguns já sabem eu cursei boa parte do curso de Educação (Pedagogia no Brasil) e falta concluir o último ano. Digo isso apenas para explicitar que tenho alguns conhecimentos pedagógicos.
Adelino foi logo dizendo que na pré escola o foco não é aprender a ler. Só aí já me ganhou, seguiu explicando que a pré escola é o momento de fazer asneiras (como dizem aqui) de experimentar... Tem coisa melhor que isso??
O Agrupamento quer que as crianças experenciem, enxerguem e não apenas vejam, dispertem sua sensibilidade e sua autorregulação (resumo aqui para não me estender demais). Ele seguia dizendo que as crianças brincam livres e que os educadores tentam que elas resolvam seus próprios conflitos sem ficar em cima demais. É preciso exercitar a autonomia.
Pronto, Adelino me ganhou!
Os dias seguiram e os meninos foram pra escola... aqui tem muitos momentos de estudo de meio. Eles saem mesmo da escola, a educação não fica presa em pátios ou salas de aula. Eles são educados na cidade, em seu contexto. Aqui tal como defendia Freinet (educador francês que se contrapôs ao ensino tradicional) bem se vê que a sociedade vai sendo transformada por dentro da escola. Despertando sempre nas crianças a consciência de seu meio.
Os míudos tem voz e vez. E os pais também, não como consumidores/clientes mas como comunidade participante. Nós somos sempre convidados a estar presentes. Teve mãe ensinando a meditar, pai policial contando sobre seu trabalho (e particularmente meus filhos amaram), tem pai que foi contar história e eu em breve vou fazer uma leitura na semana mundial da leitura. Somos convidados a falar sobre nossas profissões, fazer leituras, estar nos estudos de meio e aula-passeio.
E as aulas - passeio são muito importantes. Meus filhos de 3 e 5 anos sabem sobre o ocenano. Eles sabem que muitas pessoas jogam lixo nas praias e isso mata os peixinhos, eles moram em uma cidade litorânea e esse conhecimento é fundamental desde muito cedo. E como chegaram aí? Já visitaram um aquário e já estiveram em um museu que exibe esculturas de lixo retirados do mar e animais marinhos. É muito significativo!
Os meninos sabem que existem outros países, que tem amigos portugueses mas tem amigos franceses, venezuelanos, espanhóis, brasileiros e desde pequenos eles já entendem que isso só determina onde cada um nasceu. Não faz diferença na hora de ser amigo ou de brincar.
É uma educação global. Uma educação que forma cidadãos e não meros repetidores de alfabeto e numerais.
Mas mais do que isso, são autônomos. De uns tempos pra cá é que ouvimos em suas conversas, que resolveram um problema com o amigo assim assado. E que estavam a se sentir estranhos e conversaram com a educadora e isso e aquilo... Vai além da autonomia de tirar e por casacos.
As educadoras são acolhedoras e imprimem seu extinto maternal com os pequenos. A pré escola funciona no modelo multietário e eu particularmente tinha certa ressalva com esse modelo. Mas hoje vejo que ele funciona muito bem. A atividades são praticamente as mesmas, mas adaptadas à faixa etária e momento de aprendizado de cada aluno. As vezes um faz a aula de artes com o pincel e outro com as mãos e está tudo bem!
Fora isso os mais velhos sempre podem ajudar os menores e isso lhes desperta sentimentos importantes como empatia.
O Agrupamento de Escolas de Carcavelos recentemente foi comparado pelo jornal Él País com o processo de amadurecimento da escola finlandesa. E eu tenho vivido na pele o porquê.
Muito se fala da escola secundária e isso é possível ver em outros posts e reportagens, mas achei por bem falar um pouco aqui da pré escola que é tão importante e bem cuidada como a secundária.
Por fim, devo dizer que sinto que as crianças são livres, felizes, crianças acima de tudo e conectadas com a natureza e sociedade que as rodeia. Isso é incrível! Claro que não é perfeito e isso é bem plausível visto que a educação usa material humano, mas, eu acho que é um caminho bem bacana que vem sendo trilhado. A pré escola é tão importante como a universidade, quem dera um dia todos tenham consciência disso!
Fico por aqui...
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Você acha que tem uma história legal sobre maternidade para contar aqui? Me envie um email para caucfoglio@gmail.com e a gente conta sua história aqui!
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Beijinhos
Antes de conhecer a escola, quando fiz a matrícula, peguei um uber com um pai que teve seus dois filhos no JI de Carcavelos e ele me disse: Pode não ser a escola mais rica em instalações e material, mas o material humano é 5 estrelas! Eu sinceramente até discordo da parte das instalações. A escola é simples, mas é perfeita para ter liberdade e imaginação. E hoje vejo que ele tinha razão sobre o material humano!!!
Já na primeira reunião, a reunião com o diretor do agrupamento, Adelino Calado, fiquei muito bem impressionada. Como alguns já sabem eu cursei boa parte do curso de Educação (Pedagogia no Brasil) e falta concluir o último ano. Digo isso apenas para explicitar que tenho alguns conhecimentos pedagógicos.
Adelino foi logo dizendo que na pré escola o foco não é aprender a ler. Só aí já me ganhou, seguiu explicando que a pré escola é o momento de fazer asneiras (como dizem aqui) de experimentar... Tem coisa melhor que isso??
O Agrupamento quer que as crianças experenciem, enxerguem e não apenas vejam, dispertem sua sensibilidade e sua autorregulação (resumo aqui para não me estender demais). Ele seguia dizendo que as crianças brincam livres e que os educadores tentam que elas resolvam seus próprios conflitos sem ficar em cima demais. É preciso exercitar a autonomia.
Pronto, Adelino me ganhou!
Os dias seguiram e os meninos foram pra escola... aqui tem muitos momentos de estudo de meio. Eles saem mesmo da escola, a educação não fica presa em pátios ou salas de aula. Eles são educados na cidade, em seu contexto. Aqui tal como defendia Freinet (educador francês que se contrapôs ao ensino tradicional) bem se vê que a sociedade vai sendo transformada por dentro da escola. Despertando sempre nas crianças a consciência de seu meio.
Os míudos tem voz e vez. E os pais também, não como consumidores/clientes mas como comunidade participante. Nós somos sempre convidados a estar presentes. Teve mãe ensinando a meditar, pai policial contando sobre seu trabalho (e particularmente meus filhos amaram), tem pai que foi contar história e eu em breve vou fazer uma leitura na semana mundial da leitura. Somos convidados a falar sobre nossas profissões, fazer leituras, estar nos estudos de meio e aula-passeio.
E as aulas - passeio são muito importantes. Meus filhos de 3 e 5 anos sabem sobre o ocenano. Eles sabem que muitas pessoas jogam lixo nas praias e isso mata os peixinhos, eles moram em uma cidade litorânea e esse conhecimento é fundamental desde muito cedo. E como chegaram aí? Já visitaram um aquário e já estiveram em um museu que exibe esculturas de lixo retirados do mar e animais marinhos. É muito significativo!
Os meninos sabem que existem outros países, que tem amigos portugueses mas tem amigos franceses, venezuelanos, espanhóis, brasileiros e desde pequenos eles já entendem que isso só determina onde cada um nasceu. Não faz diferença na hora de ser amigo ou de brincar.
É uma educação global. Uma educação que forma cidadãos e não meros repetidores de alfabeto e numerais.
Mas mais do que isso, são autônomos. De uns tempos pra cá é que ouvimos em suas conversas, que resolveram um problema com o amigo assim assado. E que estavam a se sentir estranhos e conversaram com a educadora e isso e aquilo... Vai além da autonomia de tirar e por casacos.
As educadoras são acolhedoras e imprimem seu extinto maternal com os pequenos. A pré escola funciona no modelo multietário e eu particularmente tinha certa ressalva com esse modelo. Mas hoje vejo que ele funciona muito bem. A atividades são praticamente as mesmas, mas adaptadas à faixa etária e momento de aprendizado de cada aluno. As vezes um faz a aula de artes com o pincel e outro com as mãos e está tudo bem!
Fora isso os mais velhos sempre podem ajudar os menores e isso lhes desperta sentimentos importantes como empatia.
O Agrupamento de Escolas de Carcavelos recentemente foi comparado pelo jornal Él País com o processo de amadurecimento da escola finlandesa. E eu tenho vivido na pele o porquê.
Muito se fala da escola secundária e isso é possível ver em outros posts e reportagens, mas achei por bem falar um pouco aqui da pré escola que é tão importante e bem cuidada como a secundária.
Por fim, devo dizer que sinto que as crianças são livres, felizes, crianças acima de tudo e conectadas com a natureza e sociedade que as rodeia. Isso é incrível! Claro que não é perfeito e isso é bem plausível visto que a educação usa material humano, mas, eu acho que é um caminho bem bacana que vem sendo trilhado. A pré escola é tão importante como a universidade, quem dera um dia todos tenham consciência disso!
Fico por aqui...
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