Ter um filho em Portugal - Parte 2

Vamos ao relato de parto...

Com 39 semanas fomos ao Hospital de Cascais para conhecer e ter a última consulta lá. Já era certo que seria uma cesariana pois os dois outros partos foram e nenhum médico iria se arriscar em fazer parto normal (eu sinceramente não tinha opinião formada sobre isso, estava esperando que acontecesse como fosse pra acontecer).
A médica era boa, mas entrou em pânico ao ver que eu já tinha 39 semanas e marcou a cesariana para a data que achou mais perto, que era dia 24 de setembro, porque ninguém lá queria que eu entrasse em trabalho de parto. Acontece que os meus filhos não gostam muito de receber ordens, rs, provavelmente herdaram essa qualidade da mãe (hahahahaha). O Lucca estava agendado para dia 18 de setembro, mas rompeu a bolsa e nasceu dia 09. Já o Antônio estava agendado para dia 13 de julho e também não achou graça, rompeu a bolsa dia 11 e nasceu dia 12 de julho.
Eu não gostei nem um pouco de marcar a data porque eu queria mesmo é que a Isabella rompesse a bolsa também, assim anunciaria (tal como os irmãos) que estava pronta pra nascer.
Dito e feito! Dia 22 de setembro a noite comecei e a ter os pródromos e dia 23 a bolsa rompeu de vez as 9 horas da manhã depois de uma contração tão forte que eu pensei que ela ia nascer ali mesmo no banheiro.
Já no hospital o médico que eu não sei o nome( mas se soubesse colocaria aqui só pra ele passar vergonha) me examinou e disse que eu não tinha bolsa rota. Eu disse que tinha, e ele disse que não, deve ter sido xixi e eu confudi (tão gentil, só que não). Por via das dúvidas ele disse que ia fazer um ultrassom só pra ver confirmar e .... adivinha?? Claro que tinha rompido!

Aí ele disse assim: - Ah, olha tem pouco líquido.
Eu: - Rompeu a bolsa então?
Ele: - É, tem pouco líquido.
Eu: - Rompeu ou não?
Ele: - Sim.
Eu: - ahhhh

Ele nem queria confirmar que eu tinha razão. Mas tudo bem. Foram me preparar para ir pra internação, mas ninguém me disse que eu ia ficar tanto tempo ali (Eu odeio não saber o que vai acontecer). O Tomás foi me encontrar depois que eu já estava com aquela linda camisola (rs). As enfermeiras muito simpáticas o tempo todo. Fiquei das 12:00 às 17:40 nessa sala.
O Hospital de Cascais é um hospital de referência de Lisboa, e aqui as gestantes podem escolher em qual hospital vão dar à luz. Nos últimos anos o hospital têm sido muito procurado, mas só há dois centros cirúrgicos no bloco de partos (pois a preferência é por parto normal). E o bloco de partos fica sobrecarregado.
Na opinião dos médicos (apesar das minhas fortes contrações) como o "cardiotoco" (exame que mede os batimentos cardíacos fetais) estava bom, eu era um caso estável. Foram surgindo emergências de grávidas que estavam em trabalho de parto ativo e não conseguiam evoluir, ou bebês em sofrimento fetal e eu fui ficando.
Até que, por volta das 17:00 os batimentos cardíacos da Isabella começaram a oscilar. Rápido veio o anestesista conversar comigo e logo depois a médica. Eu já estava bem irritada, sinceramente!
O anestesista merece aqui todas as estrelas que puder lhe dar. Eu já não me lembro o nome dele, eu sou muito ruim com drogas na veia 😆, mas ele era muito humano. Muito gentil, preocupado, tranquilo e objetivo. Foi a pessoa mais humana do parto sem sombra de dúvida.
Eu tive um episódio na anestesia. Tomei um pré anestésico na veia e sinceramente não sei explicar se a enfermeira injetou muito rápido no soro, se eu tenho reação à droga administrada, não sei explicar.
Eu comecei a sentir um calor, depois fiquei claustrofóbica, precisei levantar pra ir ao banheiro, lavei o rosto incessantemente por 5 minutos. Respirei fundo, meu coração tava acelerado e a enfermeira chamou o anestesista. Ele me deu um outro remédio na porta do banheiro e quando cheguei de volta à internação já estava normal.
Às 17:40 as enfermeiras foram me buscar para a cesárea, todas se apresentaram eu foram muito gentis. A pediatra também se apresentou e ela era um doce.
Nenhuma das médicas eram muito afetuosas, mas foram educadas e fizeram uma cirurgia tranquila e correu tudo bem, como se diz aqui. Isabella nasceu as 18:29, me mostraram ela e logo levaram-na pois estava com a respiração um pouco ofegante. A pediatra veio me explicar e disse que estava tudo bem, só precisava se recuperar um pouco. Ficou cerca de 40 minutos na incubadora, assim que cheguei na recuperação já me deram ela nos braços.

Uma das médicas fez os dois comentários desagradáveis abaixo, na minha terra isso se chama violência obstétrica. Mas eu dei a ela o benefício da dúvida de ficar entre uma pessoa boa (amarga, mas boa) em um dia difícil ou uma pessoa sem empatia e um tanto quanto descuidada a ponto de se arrumar uma bela dor de cabeça (caso fosse denunciada) só por que lhe deu na telha dizer essas coisas para uma mãe que estava na mesa de cirurgia.

1- A médica me disse que meu corte era muito para baixo e não é assim que se faz. Que foi feito errado e blá blá blá. E que agora ia ficar muito feio e blá blá blá.
 Eu achei além de desagradável, desprovido de ética. Sinceramente, o corte e a cicatriz da cesárea do Antônio ficaram muito melhores do que o que ela fez. Segunda coisa, aqui no Hospital de Cascais eles não costuram ou passam cola, te colocam grampos de alumínio (tipo grampeador mesmo), conforme passam os dias aquilo fica extremamente desconfortável e você tem que ir ao Centro de Saúde para tirar. Já há técnicas melhores, né?  E a boa e velha costura também não é mal... grampos em um hospital de referência de um país do "Primeiro Mundo"foi um pouco demais pra mim.

2- Antes de fechar o corte completamente, elas fizeram uma espécie de uma drenagem, é verdade que eu fiquei bem menos inchada do que nas outras cesáreas. É uma bela técnica que seria lembrada com muito louvor se não fosse mais uma vez a médica desagradável a dizer asneiras. Ela disse: - Olha a sua pele da barriga tá muito flácida, não sei o que vai conseguir fazer aqui...
Eu não sou de me calar, quem me conhece sabe que eu tenho resposta pra tudo e não era porque estava na mesa de cirurgia que ia me acovardar. Já era a segunda vez então eu disse: - Você já teve filhos? (eu imaginava que não, ela tinha uma cara de novinha), ela respondeu: Não. Eu disse: Então, quando tiver, tome muito cuidado ou você vai ficar assim também! Geralmente acontece quando a pele estica muito, mas você é médica, deve saber disso! (rs).

Depois ela não fez mais nenhum comentário ridículo. Veja, ela não foi descuidada em nada e também não decepcionou em competência. Mas um dos quesitos de ser um bom médico é ter empatia e definitivamente isso é uma coisa que  a maioria dos médicos do sistema público daqui, que tive contato, precisam aprender!
Dois meses depois eu encontrei com uma brasileira no Centro de Saúde que me disse que ouviu exatamente os mesmos comentários... Ou ela topou com a mesma médica (pois era no mesmo hospital), ou é uma máxima das médicas que fazem a cesariana... Nenhuma das duas hipóteses me agrada!

Bom, acabou a cirurgia, as médicas se despediram e eu fui para a sala de recuperação. Tem uma coisa muito boa nesse hospital. Aqui você fica com seu filho e seu marido no recobro/recuperação. Então você pode amamentar, fica mais tranquila. Pode conversar com seu marido e receber mimos.
Eu tive os meninos no hospital São Luiz - Itaim em São Paulo. Depois da cesárea te largam lá na sala de recuperação. SOZINHA!!!! Por horas até te encontrarem um quarto. Eles dizem que a sala de recuperação é até você mexer as pernas, mas não é. No meu caso uma hora depois eu já mexia as pernas e fiquei 4 horas esperando o quarto da primeira vez e 6 da segunda. SOZINHA. Nem meus filhos, nem o Tomás... ninguém.

Fiquei lá até 23:40, e então me levaram para um quarto privado. Ficaria então sozinha no quarto! Pouco antes de irem me buscar pra levar pro quarto o Tomás foi pra casa porque os meninos não queriam dormir sem ele e já era muito tarde.
Antes de subir, colocam no bebê uma pulseirinha anti-rapto e conferem com a mãe. Depois a enfermeira e a auxiliar do andar que eu ficaria me levaram para o quarto.

Vou deixar a história daí pra frente para um próximo post, para não ficar comprido demais.

Gostaria de compartilhar aqui duas opiniões:

Depois de conhecer alguns médicos, não que isso justifique, eu percebi que o principal obejtivo da maioria deles é resolver o seu problema. E resolver o seu problema não necessariamente é te fazer saber sobre os procedimentos que serão aplicados e tão pouco envolve simpatia.
A boa notícia é que geralmente resolvem e bem. A má notícia é que por vezes você pode se sentir menosprezado e desamparado.
Eu fico pensando que pode ser uma tradição acadêmica ou qualquer coisa nesse sentido. Mas também volto ao ponto de ... eles são MÉDICOS! Né? MÉDICOS geralmente cuidam de pessoas e pra cuidar delas é meio que preciso se envolver com elas... mas OK.
Pode ser também a quantidade de trabalho, ou qualquer outra desculpa que ainda assim não vai justificar.
Devo excluir aqui dessa história de mal feitio médico a médica do Centro de Saúde, a médica que me deu alta, o anestesista e a médica pediatra que estava na sala de partos.
E sabe porque não justifica? Porque as enfermeiras tem tanto trabalho quanto eles ou mais e pelo menos todas as enfermeiras que eu me relacionei foram 10 estrelas, porque 5 é bem pouco. O andar da maternidade lotado e elas sempre com um sorriso, uma palavra amiga e doando o melhor de si.

A outra, é que mesmo com todas as questões com alguns médicos eu tive um atendimento tão bom ou até melhor que no hospital São Luiz - Itaim em São Paulo. Exceto é claro os grampos pra fechar o corte. Mas desde a comida, até a limpeza do quarto, as enfermeiras, as vacinas, os remédios e a tecnologia ... tudo muito bom.
Portanto, fazendo um balanço geral eu considero ter tido uma boa experiência. Coisas boas e ruins vão haver em todos os lugares, mas acho importante ser realista e crítica (no bom sentido) uma vez que escrevo para outras mães e futuras mamães.

Ufa... foi longo esse! Mas acho que é isso...


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Beijocas






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